O planejamento financeiro é um dos principais pilares em qualquer empresa, de qualquer segmento. É a partir dele que decisões seguras e assertivas são tomadas, e isso não poderia ser diferente quando falamos em propriedade rural e agronegócio.
Um bom planejamento vai tornar possível mensurar o crescimento do negócio, entender o funcionamento de cada etapa da produção, o que é, de fato, fundamental, onde há desperdícios e o que pode ser otimizado para evitar gastos desnecessários e gerar lucro. Mas o fator preventivo talvez seja um dos mais essenciais, pois estar preparado para eventuais crises na produção pode fazer toda a diferença.
Especialmente na agricultura, os investimentos são definidos de acordo com a cultura escolhida a ser produzida. Com base nisso utilizam-se recursos em insumos, defensivos e diversas tecnologias para implementação e produção de resultados.
No Brasil, a agricultura, além de sofrer com a instabilidade do clima, que tem a capacidade de mudar por completo uma safra, conta ainda com a taxa de juros instável, o que passa a ser uma grande problemática. Apesar de ser um instrumento importante para a economia, por ser regulatório, a variação da taxa básica de juros, chamada Selic, é motivo de preocupação para os agricultores, principalmente nos últimos meses.
Na agricultura, os efeitos da variação da taxa Selic acometem principalmente os financiamentos e empréstimos. Neste caso, especialistas recomendam que os produtores acompanhem as tendências de alta e baixa da taxa de juros. Atualmente, para conter a inflação, a Selic está subindo e, agora em março deste ano a taxa chegou em 11,75% ao ano, sua décima alta consecutiva.
Mas, afinal, com quais etapas da produção o agricultor deve se preocupar? De acordo com especialistas no assunto, as maiores inquietações devem se concentrar nas operações de custeio em fases como preparo do solo, colheita, compra de maquinários, insumos, entre outros.
Altamente dependente da importação de insumos, especialmente fertilizantes agrícolas, o Brasil importa 85% das suas necessidades atualmente, segundo a Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA).
No caso do potássio essa dependência chega a 96%. Sendo assim, qualquer movimento do dólar tem efeito no preço do fertilizante e, com o dólar atualmente em queda, empurrado pelo último aumento da taxa Selic, o óbvio e ideal seria o preço dos fertilizantes também cair.
No entanto, não é isso que está acontecendo. Não podemos esquecer dos fatores externos, que também influenciam a formação de preços, como a oferta e a demanda crescente no mundo, a crise energética e a crise geopolítica instalada recentemente.
As incertezas geopolíticas são outro fator de preocupação no cenário de fertilizantes brasileiro. Rússia, China, Marrocos e Belarus são os maiores produtores de fertilizantes do mundo e, desde que os Estados Unidos endureceram as sanções a Belarus, país do Leste Europeu, os preços dos fertilizantes têm enfrentado pressão.
A guerra entre Rússia a Ucrânia também corrobora para mais preocupação do Brasil em relação aos fertilizantes. Existe o temor de que a interrupção das exportações pela Rússia e por Belarus aumente mais ainda o preço do produto, onerando a safra brasileira deste ano.
O Brasil já solicitou a Organização das Nações Unidas que os fertilizantes não sejam inclusos na lista de sanções da Rússia. A proposta é que eles sejam incluídos na mesma categoria que os alimentos, ou seja, que não tenham sua exportação interrompida durante a fase de conflito. Um dos argumentos do País foi que o comércio de fertilizantes é fundamental para a segurança alimentar mundial.
Apesar das limitações, a Rússia ainda não suspendeu a entrega do produto para o Brasil, enviando um navio este mês. O único receio é que a Rússia anuncie novas sanções, que possam inviabilizar a exportação do produto.
Outra medida adotada pelo Brasil é o Plano Brasileiro de Fertilizantes, que já iniciou o esboço e trará metas a longo prazo como redução de 45% das importações de fertilizantes até 2050. A curto prazo, técnicos da Embrapa serão enviados a polos produtivos para mapear o manejo de insumo e propor maneiras de economizar o seu uso nas lavouras.
No entanto, uma solução que vem sendo estudada e discutida é o aumento da importação desses insumos de países como o Canadá e Irã, pois não existe estoque suficiente para a produção no país. Mas ainda há o temor de que tal medida não seja suficiente para compensar a importação dos fertilizantes e conter os impactos na agricultura brasileira.
Além do suprimento, outra dificuldade que vem surgindo é em relação ao recebimento de cargas internacionais. Caso aconteça qualquer entrave logístico na entrega dos fertilizantes, a safra desse ano também sofrerá prejuízos.
Diante de tantos contextos econômicos e geopolíticos controversos, cabe ao produtor tentar se organizar o máximo possível e apostar ainda mais em novas tecnologias.
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