Episódio 6: Especial Mês dos Pais - Sucessão Familiar no Agronegócio

    O Minuto Agro é o podcast do Agronegócio.

    Dando continuidade aos conteúdos especiais em comemoração ao Mês dos Pais, neste episódio, vamos falar sobre sucessão familiar no agronegócio por quem entende do assunto: uma empresa de consultoria especializada em sucessão. Participa deste episódio Franco Cammarota, Sócio e Diretor da Safras & Cifras e Consultor em Governança e Sucessão Familiar para Empresas Rurais.

    Transcrição

    Aline Araújo: Bem-vindos a mais um episódio do podcast da Indigo, Minuto Agro – é questionando que evoluímos. Eu sou a Aline Araújo da Indigo e hoje vamos trouxemos para vocês o episódio final sobre os desafios da sucessão familiar dentro do agronegócio. Se você não ouviu os anteriores, acesse nossas plataformas e aproveite!

    Aline Araújo: No episódio de hoje, chegamos ao final do nosso especial sobre sucessão familiar e seus desafios, desta vez sobre a ótica mercadológica de quem mais entende sobre o assunto, consultores especializados em sucessão familiar. Para conversar sobre o assunto com a gente, hoje temos como convidado Franco Cammarota, consultor em governança e sucessão familiar para empresas rurais e sócio-diretor de Safras & Cifras, empresa de consultoria especializada em sucessão! Seja muito bem-vindo ao nosso episódio de hoje do nosso podcast Minuto Agro.

    Franco Cammarota: Oi Aline. Obrigado pelo convite, é um prazer estar aqui com você falando um pouco do agronegócio, para desmistificar e esclarecer alguns pontos para nossos ouvintes.

    Aline Araújo: Obrigada pela sua presença, sejam bem-vindos ao Minuto Agro. Para começar o nosso bate-papo, eu queria que você contasse um pouco do surgimento de Safras & Cifras, e como vocês viram uma oportunidade de negócio com a empresa na época, onde que vocês viram uma lacuna e perceberam a necessidade de abrir uma consultoria especializada, entre outras coisas, em sucessão familiar?

    Franco Cammarota: Bom, Aline. A empresa iniciou em 1990, no sul do país, em Pelotas. Naquele momento, nosso sócio-fundador, Sr Lotério e sua esposa Rosa visualizavam algumas lacunas muito fortes no Agronegócio. Inicialmente, se envolviam principalmente na questão de gestão econômica e financeira, dando suporte aos Produtores Rurais, trazendo informações para que eles pudessem ter consciência, certeza e tomadas de decisão muito mais alinhadas com seu negócio. Havia uma falta de profissionalização muito grande e o foco efetivamente foi a gestão lá atrás. Progressivamente, é uma característica das Safras & Cifras, nós vemos como tudo isso é um processo, não é um ato. Então nós fomos acompanhando a evolução do Agro no país, acompanhando todo esse movimento. Que hoje o Agro realmente é o que sustenta o PIB do Brasil e chegamos num ponto que para nós é muito interessante, ou seja, como a gente poderia dar suporte, ajudar e profissionalizar as empresas familiares. A empresa familiar nada mais é do que uma relação que envolve família, patrimônio e negócio. E cada dimensão dessas têm suas peculiaridades, tem suas complexidades e não é pouca coisa, então esse é o trabalho que hoje, 2021, nos preocupa muito. Pensar na gestão da continuidade dessas empresas familiares que muito fizeram, muito fazem e ainda tem muito por fazer para o Agronegócio do país.

    Aline Araújo: Você pode contar um pouco para o nosso ouvinte qual que é a importância de um planejamento sucessório e como ele faz a diferença nos negócios?

    Franco Cammarota: Eu diria que o planejamento... Primeiro a gente tem que desmistificar um ponto que é importante, muitas vezes, a gente fala em sucessão e a sucessão nos remete à questão de morte, de ausência e tal, e eu acho que esse é um ponto que nós estamos tendo muita maturidade hoje no setor de já superar. Quando a gente fala em planejamento sucessório, a gente fala então de fazer boa gestão no que se refere ao patrimônio, uma boa gestão no que se refere ao negócio e uma boa gestão no que se refere à família que está ligada com toda essas, efetivamente, relações. Alguns problemas que podem acontecer se perguntar da diferença. Se a família se estender para dentro do negócio, sem regras claras, nós vamos ter problemas. E mais, na ausência, de repente, de um Patriarca, nós vamos ter uma situação de conflito eminente e de uma forma estruturada. Então quando a gente começa de forma preventiva, a prevenção sempre vai ter um custo financeiro e emocional muito melhor do que um processo de reação. Então, se a gente trabalha de uma forma preventiva, vai nos doer menos. Então, trabalhar com os pais em vida, a organização do patrimônio, a clareza para o negócio e mantendo uma relação de harmonia dentro da estrutura familiar, nossa, isso é um total de diferencial, se a gente for pensar na gestão da continuidade, Aline.

    Aline Araújo: Quais os benefícios de contratar uma consultoria para suportar esse processo?

    Franco Cammarota: Bem, a consultoria, e vejo muito isso por nós, por Safras & Cifras, que estamos hoje, alcançando, somos em torno de 200 profissionais, temos a possibilidade de ter um olhar diferenciado sobre o que está acontecendo. Vejamos bem, nós temos advogados, contadores, psicólogos, administradores, agrônomos, veterinários, nós temos a completude, nós temos um grupo de profissionais que estão olhando aquela situação. Então, de alguma forma, nós conseguimos enxergar de fora e ver de forma racional o que está acontecendo e conseguimos pontuar para o cliente algumas situações que muitas vezes ele já sabe, e que não tem ideia de como solucionar o problema. Nós temos clientes diferenciados hoje no Brasil. Quando digo clientes, o produtor rural sabe como ninguém produzir, sabe como ninguém produzir, o produtor rural é excelente no que se refere à produção, só que ele não se preparou para organizar a estrutura da sua família relacionada ao seu negócio e ao seu patrimônio. Não vinha essa preparação. Então, nós como consultoria, estamos colaborando e construindo essa possibilidade de, em vida, deixar as coisas organizadas, para que todo aquele sacrifício, como muitos produtores hoje em dia “ah, mas eu dormi em lona preta, eu trabalhava 72 horas”... Para que tudo isso, todo esse sacrifício tenha sentido, porque eu acho que esse é o grande ponto. Que tenha sentido, que haja um propósito para essa continuidade.

    Aline Araújo: E ainda falando sobre isso, como é a cultura do produtor rural brasileiro no geral? Eles têm se importado mais com esse tipo de questão e se planejado, ou só procuram uma consultoria quando acontece algum problema?

    Franco Cammarota: Aline, eu vou tentar te resumir assim em três palavras, porque como alguns produtores sentem e se mexem perante a situação. Nós podemos ter a consciência de que algo tem que ser feito. Então eu me antecipo, eu posso fazer isso por uma relação de disciplina, eu sei que isso de alguma forma tem que acontecer ou pode ser na base da dor trauma. Há 10 anos atrás, em geral, o que nós víamos era funcionar na base da dor, na base da dor. Ou seja, aconteciam, nos chamavam. E muitas vezes a gente tinha condições de proporcionar uma solução estruturada e muitas vezes tínhamos que fazer uma redução de danos. O produtor rural, progressivamente, compreende agora a necessidade de organizar tudo isso. Até porque, em virtude dos últimos anos, a margem do negócio melhorou, aumentou, assim como também a necessidade de reinvestimento aumentou. Porque muitas vezes, as pessoas dizem “Nossa, porque o Agronegócio gera muito resultado, porque o Agronegócio ganha muito dinheiro”. É positivo? Sim, mas esquece a necessidade e a importância de reinvestir no negócio para que aquilo continue gerando riquezas. Então nesse momento ele está preocupado em organizar o patrimônio, em fazer uma gestão tributária mais eficaz possível. Ou seja, sim, temos que respeitar a lei, sim, agora como eu faço uma gestão tributária de forma a honrar com meus compromissos, utilizando e sendo inteligente nesse processo. E sem dúvida, um dos pontos que tem sido de muita dor é quando as relações de filhos, entre irmãos vão acontecendo e quando eu não tem coisas claras, quando elas estão veladas, quando elas não estão muito bem estruturadas, a tendência é que a gente tenha conflitos muito grandes, em algumas situações se eles não forem resolvidos, eles não foram alinhados, há uma chance muito grande de separação, de cisão, e quando há uma cisão, infelizmente se rompem laços, se rompe laços familiares, temos aí um prejuízo da escala, a chance da gente perder e não ter continuidade é muito grande. Por isso que a gente sempre atenta, que nós temos que manter a serenidade, temos que ter a consciência, e fazer o processo, principalmente quando as coisas estão bem, quando a gente ainda consegue ter uma relação de respeito, sentar na frente de um irmão, conversar com um pai, conversar com um tio, são momentos importantes se a gente está pensando efetivamente nessa perenidade. Nós temos que alinhar os objetivos do indivíduo e com os objetivos coletivos. Imagina se a gente não senta em uma mesa, como a gente fazia Aline, ficamos extremamente prejudicados, sim. E a comunicação é algo que tem sido um dos nossos grandes exercícios, tá? E que muitos produtores rurais não tinham este costume. “Ah, não tenho o costume de sentar na mesa para falar sobre negócio”. Tendem a falar sobre negócios quando estão em reunião de família, em um domingo no churrasco, depois de tomar uma cerveja, de tomar uma pinga. Então, não são os momentos adequados para a gente fazer isso. Melhorou muito, então, a procura neste sentido tá? Há muita preocupação, principalmente se a gente for pensar na profissionalização do negócio.

    Aline Araújo: Indo em linha com isso que você está trazendo, pela sua experiência dentro das Safras, quais são os principais fatores, além desta questão de relacionamento, que podem prejudicar o dia a dia neste processo de sucessão familiar, impedindo ou dificultado a perpetuidade dos negócios para as próximas gerações?

    Franco Cammarota: Eu, relacionamento, sem dúvidas, como tu bem citastes, esses erros e a questão de comunicação. Objetivo, os objetivos comuns são fundamentais. Quando a gente chega em uma empresa familiar, a gente já espera, que nós temos pessoas diferentes. Porque a gente tem que fazer a gestão da complementariedade, é natural que sejamos diferentes e que bom que somos diferentes. Uma mãe me dizia, cada vez que ela entrava em reunião, ela dizia “eu tenho 5 filhos”, e ela levantava a mão dela e mostrava: “todos os dedos são diferentes, ou seja, todos os filhos são diferentes”. Agora, se a gente tiver um alinhamento no sentido de ter clareza, onde nós vamos, fica muito mais fácil de a gente direcionar o barco, sabe? Porque se não, o que acontece é o seguinte: o barco fica à deriva, para qualquer porto que eu for está ótimo. Algumas situações, na prática, têm ocorrido que quando a gente senta na mesa para discutir como está o negócio, e a gente começa a perguntar efetivamente para onde nós vamos, nós vemos uma falta de clareza total. Primeiro, do seu papel dentro do negócio, do que que tem que entregar para o negócio, e se, para onde o negócio vai no sentido de direcionamento. Muito irmãos entram em conflito, muitas vezes, exatamente nesse sentido, e vai ser pouco pior quando os filhos entram dentro do negócio, onde se entrar no chavão das gerações. Sim, temos interesses diferentes, sim temos formas de lidar com a vida diferente, e aqui não cabe a nós estar julgando se é certo ou se é errado, mas saber que é diferente e tendo como base a gente ter que organizar tudo isso.

    Aline Araújo: Ainda pensando um pouco sobre desafios, quais são as principais necessidades e solicitações, além obviamente da questão da sucessão em si, que acredito que é o fim, mas quais são as principais solicitações das pessoas que procuram pelo serviço de uma consultoria?

    Franco Cammarota: Eu vou responder essa pergunta pensando nas nossas quatro grandes áreas de atuação. Primeiro, quando a gente fala em uma estrutura patrimonial, nós falamos em proteger o patrimônio tendo regras claras, sobre quem entra, como se administra e como se está efetivamente no negócio. E isso tem que estar muito bem claro. Se estou no negócio e quem está na administração, se eu quero sair do negócio lá na frente, como o negócio vai me pagar de forma a que não tenha problema de fluxo de caixa, algo estrutural. Então, temos a questão tributária, que nos últimos dois anos é presente, é muito presente, eu tenho que fazer o melhor, quanto melhor for o meu planejamento tributário, melhores vão ser efetivamente meus resultados honrando meus compromissos, isso é um ponto chave dentro da nossa empresa. Então, sim, efetivamente dá para fazer muita coisa! Então, eles sentam na mesa dizendo como é que eu organizo meus impostos, como é que eu posso fazer isso... As dúvidas são incessantes neste ponto. Depois nós temos a grande questão que envolve a gestão econômica financeira, que é: termos números, termos informações, de fechamento de ano agrícola, informações de fluxo de caixa, que é algo que efetivamente o negócio quebra com o fluxo de caixa, temos estruturas de balanço gerencial que consiga dimensionar efetivamente, dar uma foto de quem nós somos, ou seja, a empresa, e essas informações são importantíssimas para nos direcionar e principalmente nós focamos muito nessas informações voltadas para a família. Porque nós temos familiares que trabalham no negócio, nós temos familiares que não trabalham no negócio, então a proximidade é importante. A gente não tem como amar algo que a gente não conhece, se não o que acaba acontecendo é que na ausência de um pai e de uma mãe, eu estou naquela sociedade efetivamente por causa do meu pai e da minha mãe, e aí que bom, agora vou tocar minha vida, vou vender tudo e vou aplicar na bolsa, são situações recorrentes.

    E por último, nos procuram muito na questão de governança, ao que se refere a deixar bem claro os papéis de cada um dentro do negócio, deixar bem claro a remuneração, a remuneração variável, o que eu tenho que entregar, onde estão efetivamente minhas lacunas, meus GAPs, onde tenho que tecnicamente me aprimorar, questões comportamentais também é algo muito presente, muito presente... Os pais reclamam muito da questão de imaturidade e os filhos reclamam muito que os pais não dão espaço. “Ah que meu pai é extremamente dominante, porque meu pai é autoritário” e, em contrapartida, o pai já diz que ele não tem senso de dono, então a governança nos permite botar na mesa e alinharmos estes pontos. Então procurei responder sua pergunta Aline, tendo como base nossas grandes quatro áreas de atuação dentro da empresa.

    Aline Araújo: Ah, muito bacana! E pensando um pouco sobre um papel de um sucessor e o papel de um herdeiro dentro deste plano ai de sucessão. De que forma vocês trabalham com esses diferentes perfis dentro das consultorias?

    Franco Cammarota: O Brasil, se a gente pegar o Brasil, e nem estou pegando, que a gente tem área de atuação na Bolívia, Paraguai, mas pegando Brasil. É continental, é continental. E sendo continental, nós temos etnias, nós temos questões culturais, questões de costumes diferentes. Então, quando a gente fala de herdeiro, e isso acontece e acho que esse nivelamento, aquela primeira reunião que a gente chama de nivelamento conceitual, onde a gente explica para todos o que está acontecendo. O pior para nós, é quando as pessoas não entendem o contexto. Bom, quando eles entendem o contexto de herdeiros, de forma para simplificar, todos aqueles filhos serão herdeiros, ou seja, daquele pai e mãe, ou seja, terão direito, efetivamente as questões em todo caso de dividendos do patrimônio, a gente separa, bom, eu não trabalho no negócio, eu vou ser um herdeiro. E o sucessor vai ser aquele familiar, ou no caso, exemplificando, vai ser o filho, que vai fazer o seu objetivo de vida, o seu direcionamento no negócio. Ele vai trabalhar no negócio, ele vai suceder o pai, mãe, tio, no negócio, dando continuidade. Aí, você pode me dizer “Ah, mas um é mais importante que o outro?”. Não, nós não podemos pensar desta forma e pensar que vai haver níveis de importância, não. Porque o herdeiro vai ser um sócio, e eu tenho que preparar aquela pessoa, aquele familiar para ser um bom sócio. E ser um bom sócio, o que que é? É contribuir para que o negócio dê continuidade, sim, recebendo meus dividendos, sim, recebendo parte do lucro, tudo isso é efetivamente combinado sem haver prejuízos. Mas ajudando a pensar no negócio, porque este é o papel de um sócio. Muitas vezes o pessoal entra em uma posição de “sou sócio” e entra em uma posição meio passiva. Não, não, não. Aqui, nós estamos falando que todos são protagonistas, com papeis diferentes. Sou irmão na família, sou sócio no patrimônio e uma parte dos familiares vão tocar o negócio e outras não. Então, eu sei muito bem o chapéu que eu estou usando e em que momento eu estou usando. Então, isso é um ponto importantíssimo, da gente esclarecer sempre para a família. Nós temos que saber que chapéu nós estamos usando, que não por eu ter o sobrenome eu vou entrar no negócio e fazer do jeito que eu quero. Não é bem assim que funciona. Aí sim que a gente vai gerar um problema bastante sério no negócio, inclusive nós temos belíssimas estruturas montadas que como ponto de atenção a gente já disse “Olha, se vocês não tiverem clareza na entrada de filhos dentro do negócio, isso aqui vai ser um problema” e “Ah, mas hoje eles são adolescentes e tal”. Não, ótimo. Mas, o ponto de atenção tem que estar aí, a gente não pode abaixar a guarda quando a gente está falando de planejamento sucessório, porque a gente está falando de um processo, as pessoas crescem, se desenvolvem e vão tendo interesses diferentes, vão casando, vão tendo filhos, vão convivendo com outras pessoas. Temos as relações de agregados, então nós temos que compreender essa complexidade, Aline.

    Aline Araújo: Como funciona o trabalho da consultoria, desde o momento da chegada do cliente até vocês até o final do contrato? Depois de finalizada a sucessão, vocês continuam auxiliando esses clientes no processo, como que funciona? Tem um tempo médio de atuação da consultoria?

    Franco Cammarota: Bom, o nosso trabalho se inicia por um mapeamento, então nós temos que ter clareza de onde nós estamos e quais são os objetivos daquela família empresária. Tendo como base os objetivos, tendo como base aquela estrutura mapeada, aí nós desenvolvemos dentro daquelas 4 áreas que te comentei antes, temos a questão patrimonial, tributária, gestão econômica financeira e de governança, nós montamos uma estrutura de projeto com escopo técnico especificamente para aquele cliente, muitas situações se repetem de clientes para clientes, às vezes a gente só muda o CEP. Mas a solução é muito customizada, então nós montamos uma estrutura de cronograma de atividades que vão contemplando aquele escopo, aquele objetivo, pode durar de 8 meses, 10 meses a 2 anos, 2 anos e meio, dependendo da complexidade da família e complexidade do negócio. A consultoria ela não pode ser uma bengala, a consultoria ela vai entrar, vai desenvolver aquele projeto e vai fazer uma entrega do combinado. “Ah, mas e depois eu gostaria de manter uma continuidade”. Sim, é possível, mas a gente tem que pensar isso como um livro, eu tenho que virar uma página para ir para a próxima página. Então como a gente está lidando com processos, muitas coisas vão acontecendo, a legislação muda, interesses muitas vezes de alguém entrar e de alguém sair, há modificações nos negócios. Os negócios têm crescido de uma forma fabulosa, fabulosa. O que nos leva a ter em muitas situações dores do crescimento. Ou seja, cresci, cresci e cresci, eu tenho que me organizar, vocês têm que nos ajudar de novo, “como é que a gente estrutura o negócio daqui pra frente?”. E nos últimos 5 anos nós acompanhamos grupos que duplicaram de tamanho, triplicaram de tamanho. Fico muito feliz de ouvir isso, temos um bom problema, mas temos uma situação a ser resolvida, então neste momento nos chame de novo, sim, Aline, para que a gente consiga, proporcionar e gerar essa continuidade. E tendo como base o que? Um mapeamento. Não existe formula do bolo. “Ah, mas eu quero fazer o que meu vizinho fez”. Bom, peraí, serviu para seu vizinho, mas possivelmente não sirva para ti. “Ah, mas eu quero uma holding”. Bom, mas a holding é uma ferramenta, pode ser fantástica e sensacional, mas qual é o seu interesse para utilizarmos uma holding? Onde você quer chegar? Então, nós temos perguntas que são de cunho bem estratégico para que nos direcione para cunho de nosso trabalho.

    Aline Araújo: Existe uma diferença entre os processos sucessórios de pequenos produtores rurais e grandes empresas do agronegócio?

    Franco Cammarota: Eu vejo da seguinte forma. Eu falo de complexidade, nós temos complexidade de família e nós temos complexidades de negócios. Então, a solução vai se adequar a complexidade. Nós temos situações de grandes produtores que têm uma situação de pai e mãe com filho único, de uma forma estruturada. Nós temos situações de produtores menores, que têm um outro formato, vários núcleos. Então, dizer que pequeno ou grande... o que a gente tem que focar é qual a complexidade do nosso cliente, o que ele precisa em matéria de execução e gerar soluções específicas para ele. Posso dar alguns exemplos, nós temos situação de grão, de algodão, que são grandes área territoriais e nós temos situações de frutas que são pequenas áreas de hortifrúti, também com pequenas áreas, mas com faturamentos fantásticos, com resultados maravilhosos. Então, é importante entender necessidade e gerar a solução para esta família empresária.

    Aline Araújo: Existe uma tendência no mercado do agro em estar mais preocupado com esse tipo de questão de sucessão família?

    Franco Cammarota: Eu diria que o seguinte, a palavra tendência, eu utilizaria ela uns 5 anos atrás. Hoje, os grandes polos de Agro têm uma preocupação gigante pelo que se refere ao planejamento de forma ampla. De estruturar as relações de patrimônio, de encontrar a melhor forma tributária, de organizar o negócio pensando na continuidade. Então, já é algo muito, muito presente. Todos os stakeholders, todas as partes integrantes, parceiros que vão desde as multinacionais, revendas, bancos, há uma preocupação de todo mundo neste sentido. É claro que, qual é o foco? O foco é que tenha continuidade, o foco é que o cliente continue ali, o foco é que o produtor rural continue produzindo da melhor forma possível. Então, eu vejo isso hoje como extremamente presente e consolidado. “Ah, mas tem pessoas que ainda vão demorar para entrar nisso”. E aí eu me remeto aquela sua outra pergunta, o que que nos mexe para conduzir, para fazer alguma coisa? Ou seja, como cada um de nós, como indivíduo, nos direcionamos para uma mudança? Tem gente que entra em uma zona de conforto, que diz que não quer mudar nada e só irá mudar quando morrer e tem gente que quando apertar o cinto vai querer se mexer e vai querer acelerar alguns processos. Então, para mim, é algo que já está consolidado, tende a cada vez mais entrar em um nível de profissionalização, a própria estrutura de pandemia. Eu, casualmente, hoje de manhã, conversava isso com um cliente, que como acelerou tudo isso, como acelerou uma necessidade, de repente a gente tocou em pouco tempo coisas que demorariam, quem sabe, 5 anos. Então, vejo como algo muito presente e que só tende a aumentar em virtude da importância do Agro dentro do País.

    Aline Araújo: E a velocidade com a qual este trabalho está se consolidando, você entende que é algo para esta geração, chegar a uma velocidade de mercado ideal, comparada com outras indústrias, ou você imagina que essa consolidação só vai acontecer na próxima geração? As gerações que estão assumindo agora que já nascem, que já chegam no negócio com essa consciência e é essa geração que vai fazer toda condução da gestão, pensando inclusive neste processo?

    Franco Cammarota: Olha, excelente pergunta, excelente pergunta. E eu te diria que os maiores players, as maiores dos negócios continuam a se fazer esta pergunta. Ou seja, em que momento vão haver alguns pontos de viradas. Em que momento virão alguns pontos de corte. Eu diria que alguns pontos já estão acontecendo, e já estão acontecendo, aqueles patriarcas que fizeram grandes aberturas agrícolas, e já estão de repente com seus 70, 80 anos em algumas gerações e já vai acontecendo. A geração que veio logo na sequência já pegou, vamos dizer assim, uma estrutura produtiva já elaborada ou em elaboração e cabe agora melhorar o formato de gestão, proporcionando, sim um outro nível de governança. Se, você perguntou se esta geração vai ter condições de fazer isso, eu te diria que a gente já está tendo casos de sim, de integrantes destas gerações que estão levando adiante. Porque encontraram isso como seu propósito de vida, como seu propósito de vida. Também ressalto que, em algum momento nós vamos ter, se já não temos, lacunas em matéria de lideranças, de lideranças. Nós temos que preparar nossos filhos para serem bons gestores, bons líderes, para que a gente possa transitar essa continuidade. Se a gente esperar décadas para nos movimentar, nós vamos ter um problema estrutural muito grande, Aline, muito grande. Já começo a ter carência de líderes desta geração, que consiga movimentar o negócio. Tem muitos filhos que não querem dar continuidade, tem muitos filhos que já começam a entrar em atrito com o irmão, relacionando questões que envolvem poder, vaidade e dinheiro. Realmente, tu chegou agora no ponto crítico dentro deste processo de forma estrutural, no que se refere a sucessão no Brasil.

    Aline Araújo: Franco, uma última pergunta antes da gente encerrar o bate-papo. Quando e como pode-se dizer que o processo de sucessão foi realizado com sucesso?

    Franco Cammarota: Tá, e aí, a gente tem que pensar efetivamente no que eu chamo de sucesso, tá? Principalmente quando a gente está falando de uma relação de processos. Eu vejo que, quando a gente vai encontrar isso? Quando a gente tiver um patrimônio organizado, organizado, estruturado e que contemple a necessidade daquela família empresária, que o negócio esteja rodando de uma forma também organizada, com papéis, de uma forma clara, com bons órgãos de governança, que haja uma boa comunicação, transparência, apresentação de resultados, que estes resultados, que estas informações sejam contempladas, compartilhadas para os demais familiares. Nós dividimos nossos projetos por etapas, tá? Então, às vezes, nós estruturamos um projeto, a gente acompanha a operacionalização deste projeto, depois tem algumas famílias que a gente está há anos acompanhando com a questão da gestão da continuidade e com reuniões trimestrais. E o que nos gratifica muito, nos gratifica demais, é que nestes 31 anos nós temos mais de 4.000 famílias que, de alguma forma, a gente já prestou algum tipo de atendimento, e que continuam, e continuam bem. E conseguiram, Aline. Uma das coisas fantásticas, pensar na continuidade do negócio, do patrimônio, mas a harmonia. A harmonia da família, e mesmo sendo psicólogo, eu não sou romântico, eu acredito em famílias funcionais. Em famílias que têm relacionamento, famílias que têm afetividade, cada um no seu estilo. Eu respeito demais isso. Não existe aquela família Doriana, que é happy day, todo mundo acorda bem. Nós temos famílias que têm que ser felizes cada uma no seu estilo e a gente prega muito isso. Então, o sucesso vai estar com o negócio rodando bem, patrimônio organizado e aquela família conseguindo conviver com laços afetivos realmente estreitos.

    Aline Araújo: Muito boa! Muito boa a reflexão, né? Esse foi o nosso episódio de hoje do Minuto Agro. Eu espero que vocês tenham gostado. Obrigada, ouvinte, por nos acompanhar até aqui. E Franco, muito obrigada pela participação, nossa conversa foi ótima!

    Franco Cammarota: Bom, nós que agradecemos, como Safras & Cifras, Aline. E espero, para todos vocês, que tenham aproveitado e façam bom uso disso e continuem apoiando o Agro, que tem ainda muito para dar.

    Aline Araújo: Ah, muito obrigada!