Em um mundo cada vez mais sustentável, ouvir o termo crédito de carbono tornou-se habitual. Mas afinal, o que é o crédito de carbono? Quanto custa? Quem compra, quem vende? Esses e outros detalhes iremos abordar neste artigo.
Créditos de carbono são unidades comerciais que representam a redução da emissão dos gases de efeito estufa. Eles são utilizados como uma ferramenta para que se atinja as metas de redução dessas emissões.
Para entendermos melhor sua aplicação e benefícios, precisamos retomar a sua origem, em 1997, durante a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) e ao Protocolo de Kyoto. Durante a Convenção, foi debatido que seria necessário adotar medidas mais rígidas para controlar a emissão de gases do efeito estufa, e o crédito de carbono foi uma das soluções encontradas. Para concretizar e formalizar tais medidas, foi realizado um acordo internacional com as metas de redução desses gases, o qual foi denominado Protocolo de Kyoto.
Mesmo acordado em 1997, o Protocolo de Kyoto só passou a vigorar a partir de 2005. Através dele, foi determinado que 55% dos países que representassem 55% das emissões globais dos gases do efeito estufa deveriam se unir para limitar e reduzir essas emissões. Isso significa que não foi um Protocolo obrigatório e aderido por todos os países do mundo.
O Protocolo também deu um caráter comercial à emissão dos gases, pois permitiu que países que produziam créditos de carbono em excesso comercializassem seus créditos, vendendo-os para os países que não conseguiam ter créditos suficientes para reduzir suas emissões. É importante frisar que, em 2016, o Protocolo de Kyoto foi substituído pelo Acordo de Paris, que é mais amplo e colocou os países em desenvolvimento signatários a assumirem obrigações com a emissão de gases do efeito estufa.
Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2), o que representa menos uma tonelada de carbono emitida para a atmosfera. Existem ainda outros gases do efeito estufa
emitidos para atmosfera e que também podem ser comercializados, que são denominados de carbono equivalente.
Um exemplo de crédito de carbono seria a quantidade de carbono gerada pela recuperação de áreas degradadas. O simples fato de se recuperar uma área de degradação de pasto, por exemplo, já é capaz de gerar créditos de carbono.
Mas, afinal, como são comprados e vendidos esses créditos? Para entender sua comercialização, deve-se considerar três premissas do Protocolo de Kyoto:
Empresas e órgãos governamentais podem comprar créditos de carbono gerados através de projetos que reduzem a emissão dos gases de efeito estufa. Um exemplo prático disso é um projeto de eficiência energética realizado por um determinado país que recebe a certificação de um órgão regulador e os créditos de carbono deste projeto são registrados em uma Bolsa de Carbono. Então, empresas e governos de outros países podem comprar esses créditos para compensar suas próprias emissões de gases do efeito estufa. Ou seja, se um país ou empresa não consegue atingir a meta de neutralizar sua emissão de carbono de forma suficiente, ele pode comprar esse carbono.
Os créditos podem ser comprados através de licitações, acordos privados ou ainda negociados entre compradores e vendedores, permitindo atender à necessidade de cada parte.
Os créditos de carbono são gerados a partir de iniciativas que reduzem a emissão de gases do efeito estufa, como, por exemplo, a geração de energia a partir de fontes renováveis, como energia eólica e solar; projetos de conservação florestal; plantio de florestas; plantio de culturas que melhoram a qualidade do solo e aumentam a capacidade de carbono, entre outras.
Entre alguns exemplos práticos estão o plantio da cana-de-açúcar, capaz de gerar biomassa para a produção de biocombustíveis e energia; o plantio do milho que gera a palhada e é comumente usado no sistema de Plantio Direto, proporcionando melhoria do solo para a cultura subsequente.
A vocação agrícola e as reservas naturais dão ao Brasil um grande potencial de suprir boa parte do mercado de crédito de carbono nas próximas décadas. O país já atualizou sua meta climática e deve reduzir em 50% suas emissões de gases de efeito estufa até 2030.
Tal fato torna a regulação do mercado de carbono no Brasil um tema cada vez mais importante. Para o diretor de biológicos da Indigo, Reinaldo Bonnecarrere, especialmente no setor agrícola, tratar o assunto é primordial para traçar uma jornada sustentável e que traga mais investimentos para o país.
“Cada vez mais os especialistas afirmam que a precificação do carbono tem entre suas finalidades primordiais incentivar a remuneração dos agricultores que adotam boas práticas, como reduzir a emissão de gases e neutralizar a concentração de dióxido de carbono, enquanto se enriquece o solo”, explica o diretor.
O mercado de carbono é um novo conceito na preservação do meio ambiente e que, além de trazer benefícios para os recursos climáticos, é uma fonte de receita para os produtores. O Brasil está na mira das grandes empresas das principais cadeias produtivas agrícolas e é um dos países que tem tudo para liderar a emissão de créditos no cenário mundial.
Resultado de um esforço coletivo que uniu agricultores, investidores, cientistas do solo, de dados e engenheiros agrônomos, em 2022, a Indigo foi pioneira ao realizar a maior emissão de créditos de carbono
do mundo! Foram 20.000 créditos obtidos através do programa Carbon by Indigo. Cada crédito foi comercializado por U$ 20,00, valor firmado à época da negociação.
A redução da emissão de carbono aconteceu entre as safras 2018-2020, em 175 fazendas norte-americanas integrantes do programa e que, juntas, totalizaram 40,5 mil hectares. Entre as práticas adotadas nas unidades produtoras estiveram o plantio direto, o uso de culturas de cobertura, a rotação de culturas e a adubação adequada do solo.
Os créditos foram destinados para 17 empresas globais, como Boston Consulting Group (BCG), Shopify, The North Face e New Belgium Brewing Fat Tire.
Lançado em 2019, o programa Carbon by Indigo é desenvolvido nos Estados Unidos e tem o objetivo de monitorar os níveis de carbono no solo em escala comercial. A iniciativa é voltada para todos os produtores em qualquer etapa da jornada do cultivo de carbono, desde iniciantes até os mais avançados na agricultura regenerativa.
A certificação do projeto é realizada pela Climate Action Reserve, uma das principais organizações do mundo, que gerencia os projetos de compensação dos gases de efeito estufa.
“Apesar das práticas conservacionistas utilizadas serem velhas conhecidas do produtor brasileiro e muito adotadas, o Programa ainda não tem data para ser lançado no Brasil, uma vez que precisa ser adaptado à realidade local, principalmente com relação às leis e certificações disponíveis no país”, explica o CEO da Indigo, Ron Hovsepian.
Atualmente, o programa tem mais de dois mil agricultores inscritos e impacta uma área de mais de 2 milhões de hectares. A segunda emissão, prevista para 2023, será calculada com base no cultivo de carbono realizados até 2021 e as expectativas são que atinja pelo menos o dobro da primeira emissão.
Com isso, a Indigo quer alcançar um novo recorde na próxima emissão.
*Países pertencentes ao anexo I do Protocolo de Kyoto:
Esses países representam mais de 60% das emissões de gases de efeito estufa do mundo industrializado.