Da alimentação humana, passando por rações de animais a biocombustíveis, a soja é um dos alimentos mais importantes do mundo. Sua demanda global tem crescido nos últimos anos, principalmente devido ao consumo de países como China e Índia.
Como toda commodity agrícola, a oferta e o preço da soja são influenciados por fatores como clima, produtividade, políticas governamentais, taxas de câmbio e variações na demanda.
Mas o que explica a instabilidade dos grãos neste ano?
Analisando o panorama do mercado desde o início de 2023, vemos que os preços da soja apresentam queda livre: a saca que estava em quase R$ 200 reais no início do ano, atualmente gira em torno de R$ 134, uma baixa de 33%, no mês de maio.
Apesar de a previsão apontar para a estabilidade do preço, uma vez que a colheita já está na fase final, ainda é necessário entender por que o preço da oleaginosa caiu tanto. E para isso vamos analisar os fatores que têm influenciado o preço de venda do grão.
De acordo com a última previsão do IBGE (maio de 2023), para este ano, a safra está estimada em 302,1 milhões de toneladas, ou seja, 14,8% maior que a safra 2022.
A perspectiva de uma boa oferta entrando em comercialização aliada ao atraso das vendas sugere uma combinação de aumento de volume com uma possível concentração dos negócios, o que também pressiona os preços.
Os prêmios para a soja no porto estão negativos, ou seja, o comprador da soja brasileira quer pagar menos do que pagaria pela soja americana nesse momento, devido ao cenário da grande safra no Brasil, colheita em andamento e a grande quantidade de soja ainda a ser comercializada. Tudo isso leva a um cenário de prêmio negativo. Nesse momento, os valores para o prêmio só mostram retorno a partir do meio do ano.
A valorização do real frente ao dólar também tem impacto na formação do preço interno da soja. Por ser uma commodity cotada em dólar, quando a moeda americana “cai”, o preço do grão também tem queda em real.
A alta dos fretes devido ao alto volume de soja a ser escoada, competindo ainda com a primeira safra de milho e a grande safra de açúcar, é um fator que também pressiona os preços do grão.
A redução da posição dos fundos de investimento é outro fator que tem afetado o preço da soja em Chicago. No mês de abril, por exemplo, os fundos reduziram a aposta na alta do preço da soja, ao mesmo tempo em que alguns tiveram que liquidar suas posições devido aos acontecimentos recentes do mercado financeiro.
O primeiro relatório de intenção de plantio do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mostrou um leve aumento para a área plantada com soja na safra americana 2023/24. Segundo o USDA, a
área plantada com a oleaginosa deve ser de 35,4 milhões de hectares, 0,1% acima da safra 2022/23 (+22 mil ha). Logo, supondo-se a mesma produtividade de 3,5 t/ha, a produção potencial de soja nos EUA estaria ao redor de 123 milhões de toneladas, uma recuperação ante a produção da safra 2022/23, que apresentou queda.
A volatilidade do mercado da soja em 2023 tem feito muitos se perguntarem: “o que esperar nesta reta final da colheita?”
De acordo com consultores do setor, nos últimos meses o que tem levado o produtor a negociar é a necessidade de pagar os custos de uma safra que foi cara, fruto da negociação de insumos quando o preço dos fertilizantes estavam altos, evidente reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia. Apesar de muito produtiva, foi uma safra de custos elevados e o produtor precisa vender para pagar parte desses custos.
Outro ponto é a chegada da safra de milho (safrinha) que será colhida em junho, o que faz com que o produtor necessite liberar espaço de armazenagem, de capacidade de escoamento para o porto, fazendo com que a soja precise ser exportada para que o milho possa ser escoado e/ou armazenado.
Existe ainda uma pressão inflacionária e a recomendação é que nada seja feito por impulso. Com o prêmio se estabilizando, o dólar estando em torno de R $5, é importante que o produtor fique atento às oportunidades, pois na verdade estamos saindo de um cenário que a pandemia e a guerra criaram.
As expectativas no longo prazo não são de prêmios altos e, se utilizarmos o histórico da bolsa de Chicago como referência, em todos os anos, os meses de agosto, setembro e outubro são meses que apontam queda, visto que é o período de entrada da lavoura nova dos EUA, o que derruba as cotações. Ou seja, o ideal é que antes do mês de agosto o produtor se atente aos “picos” que Chicago e o dólar sempre vão ter.
Ainda de acordo com especialistas, outra opção é fechar alguns contratos em dólar e, sempre que o dólar der um “repique”, travar um pouco e embolsar o dinheiro.
Em suma, neste momento de muita instabilidade a receita é estar atento às oportunidades e munir-se de boas informações para tomar as melhores decisões sem ser impulsivo.
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