Os impactos ambientais vêm cada vez mais influenciando nossa sociedade, mas principalmente a agricultura e a oferta de alimentos. Dados do Painel Intergovernamental sobre a Mudança do Clima (IPCC) de 2021 - programa criado pelas Nações Unidas para fornecer e formular políticas e avaliações científicas sobre o clima e propor adaptações e mitigações - indicam que o mundo está em constante aquecimento e que os gases do efeito estufa atingiram níveis recordes.
O que você vai aprender nesse artigo:
- O desafio na produção e oferta de alimentos
- A dependência brasileira dos insumos agrícolas
- Tecnologia e inovação
Os níveis de dióxido de carbono, CO2, por exemplo, foram de 413,2 partes por milhão (ppb), os de metano, CH4, atingiram 1889 partes por bilhão e os de óxido nitroso, N2O, alcançaram a marca de 333,2 ppb. Esses números equivalem, respectivamente, a 149%, 262% e 123% acima dos níveis pré-industriais. Logo, o calor e os novos recordes de gases do efeito estufa têm colocado o planeta em um território desconhecido, que precisa de mitigações e soluções urgentes, voltadas para a sustentabilidade.
O clima influencia diretamente em diversas atividades humanas, principalmente na produção de alimentos, que atualmente já é afetada pela frequência de eventos extremos como temperatura, disponibilidade de recursos hídricos e ainda pelo aumento de questões relacionadas a pragas e doenças. Para amenizar os riscos, o Brasil e o mundo entram na corrida pelo desenvolvimento de estudos e tecnologias relativos às mudanças climáticas e seus impactos na agricultura. Isso se tornou tema de interesse de toda a sociedade, especialmente no Brasil, onde a agricultura brasileira é responsável por uma participação relevante na economia nacional.
De acordo com o último relatório do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/Usp, em parceria com a Confederação Nacional de Agricultura (CNA), o PIB do agronegócio em 2021 alcançou a participação de 27,4% no PIB brasileiro total, a maior desde 2004 - quando foi de 27,53%. Em 2020, a marca foi de 26,6%. Altamente competitiva, a agricultura gera mais do que alimentos, mas também é fonte de empregos, fibras e bioenergia.
O desafio na produção e oferta de alimentos
Além do fator econômico, a grande importância da agricultura está em garantir a segurança alimentar ao mundo todo. E claro, o Brasil é parte necessária nesse processo.
Em maio do ano passado, o país recebeu o reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU) pela importância do agronegócio brasileiro na segurança alimentar, desenvolvimento sustentável e na geração de renda aos agricultores.
O evento aconteceu durante a Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (United Nations Framework Convention on Climate Change), que é o tratado internacional da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Com esse reconhecimento, a agricultura brasileira passou a ser peça-chave no contexto global das mudanças climáticas para a diminuição dos impactos ambientais, além de reconhecer todo o potencial e valor das tecnologias agropecuárias brasileiras.
O relatório da ONU cita a integração lavoura-pecuária-floresta como um dos responsáveis em assegurar a segurança alimentar e o desenvolvimento socioeconômico. O relatório ainda cita outras tecnologias, como a agricultura de precisão e a tecnologia baseada em ciência, que podem aumentar a produtividade e reduzir em 50% o preço dos alimentos. Mas o grande destaque do relatório foi o aumento da produtividade brasileira, que atingiu o patamar de 386% e a área agrícola apenas 83%, o que significa uma preservação de 120 milhões de hectares de floresta.
A dependência brasileira dos insumos agrícolas
Apesar do reconhecimento, da sua importância como celeiro na produção de alimentos e do uso de tecnologias na produção, o Brasil ainda se mantém refém dos insumos agrícolas, que também vêm sendo impactados pelas mudanças climáticas.
Este fato foi mais agravado nos últimos dois anos. Os preços dos fertilizantes à base de potássio, fósforo e nitrogenados – essenciais na produção – bateram recordes devido a fatores como a crise nos meios de transporte marítimos, as sanções econômicas de alguns países e o aumento do preço da energia elétrica.
E agora, em 2022, uma guerra entre Rússia e Ucrânia veio para potencializar esses fatores que já eram preocupantes, uma vez que o setor agrário brasileiro importa 98% do nitrato da Rússia.
A especulação em torno do conflito e o clima de incerteza com relação ao abastecimento também fizeram com que os preços dos fertilizantes no mercado interno disparassem. E mesmo que os problemas de fornecimento sejam sanados a curto prazo, não haverá como impedir um impacto econômico imediato, pois a falta de insumos prejudica o planejamento das safras que terão início nos próximos ciclos, enquanto o produtor depende da produção e logística das exportações de fertilizantes, que já estão comprometidas.
É sabido que o Brasil não tem reservas suficientes para atender sua própria demanda por alguns nutrientes, como potássio e fósforo. As reservas que poderiam suprir tal necessidade possuem restrições e estão localizadas na região amazônica.
Segundo a Conab, a importação de fertilizantes pelos produtores brasileiros atingiu níveis recordes no ano passado, chegando a 41,6 milhões de toneladas no período entre janeiro e dezembro de 2021.
Em 2020, esse número foi de 30,19 milhões de toneladas, sendo o produto mais importado o superfosfato simples, que cresceu 84,41%. De acordo com a Consultoria Cogo, a importação de fertilizantes atende a 76% da demanda nacional, a um custo de cerca de R$ 56 bilhões por ano. Entre os maiores exportadores de fertilizantes para o Brasil estão China, Rússia, Marrocos, Arábia Saudita, Catar e Estados Unidos.
O Brasil possui toda capacidade para ter uma agricultura autossustentável, no entanto a sua dependência na importação de insumos é um fator preocupante na corrida pelo fornecimento de alimentos em quantidade e qualidade.
Mesmo com a exportação do agronegócio superando 120 bilhões de dólares no ano passado, os custos operacionais e a necessidade urgente de encontrar fornecedores alternativos são os novos desafios desta safra.
Tecnologia e inovação
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